Infecção por Vibrio Vulnificus: Prevenção e Controlo

13/06/2025

​Resumo

 

  • O Vibrio vulnificus é um microrganismo patogénico naturalmente encontrado em águas marinhas com temperaturas mais altas. A sua transmissão ocorre principalmente pela exposição de feridas à água do mar ou pelo consumo de marisco contaminado, levando a infecções graves ou até mesmo à morte;
  • Os alimentos de alto risco incluem marisco cru, marisco mal cozinhado e marisco pronto a consumir. O processamento e armazenamento inadequados aumentam significativamente o risco de infecção por Vibrio vulnificus;
  • O sector alimentar deve reforçar o controlo na fonte, praticar o armazenamento e o transporte a baixas temperaturas, uniformizar os procedimentos de processamento e promover a educação e a formação em segurança alimentar, bem como aperfeiçoar a rotulagem sobre os riscos;
  • Os cidadãos devem adoptar medidas de protecção quando manuseiam produtos do mar, cozinhá-los cuidadosamente antes de os comerem e evitar o consumo de marisco cru, ao passo que as pessoas de grupos de alto risco devem ter uma cautela redobrada.

 

Introdução

 

       Nos últimos anos, têm ocorrido repetidamente casos de infecção por Vibrio vulnificus em todo o mundo. Na sua monitorização de rotina, o Instituto para os Assuntos Municipais identificou também múltiplos casos de infecção por este microorganismo, resultantes do contacto com marisco ou água do mar, com alguns casos a apresentarem sintomas graves e até mesmo mortes. O Vibrio vulnificus é um microorganismo patogénico halófilo que prolifera abundantemente na época quente e tende a acumular-se em marisco, sobretudo de concha. Dado que não é tolerante ao frio nem resistente ao calor, o armazenamento de marisco a baixas temperaturas e a cozedura completa podem reduzir significativamente o risco de infecção por Vibrio vulnificus.

 

Fontes e modos de transmissão do Vibrio vulnificus

 

  • Fontes de contaminação
    • ​Marisco: os moluscos filtradores (ostras e outros bivalves) alimentam-se de partículas filtradas da água e são propensos à bioacumulação de bactérias no seu organismo. Consumo de peixe, camarão, caranguejo cru ou mal passado e produtos prontos a consumir contaminados, como o sashimi.
    • ​Da água até à mesa: eutrofização dos corpos de água em aquacultura*, contaminação por equipamentos de processamento, controlo inadequado da temperatura durante o armazenamento, contaminação cruzada entre alimentos crus e cozinhados (p.ex., tábuas de corte ou facas).
  • Modos de transmissão
    • ​Infecção de uma ferida: após a ferida entrar em contacto com água do mar ou marisco, os microorganismos penetram no corpo humano através da parte danificada da pele.
    • ​​Infecção por via alimentar: directamente associada ao consumo cru de marisco contaminado.

 

* A eutrofização dos corpos de água em aquacultura refere-se à acumulação excessiva de nutrientes, como o azoto e o fósforo, nos corpos de água, levando à proliferação de algas e outros organismos planctónicos. Isto resulta na deterioração da qualidade da água e no desequilíbrio ecológico (p.ex., morte de peixes ou aumento de doenças).

 

Riscos do Vibrio vulnificus para a saúde

 

  • Infecção de uma ferida: As infecções, mesmo ligeiras, podem levar a uma fascite necrosante, caracterizada por dor intensa, vermelhidão, inchaço e necrose rápida dos tecidos. Os doentes com fascite necrosante podem necessitar de amputação para salvar as suas vidas, e cerca de 20% a 30% dos doentes morrem de fascite necrosante.
  • Infecção por via alimentar: Pode causar diarreia, vómitos e dor abdominal, geralmente sem sintomas graves. No entanto, se a pessoa infectada sofrer de outras doenças crónicas, especialmente doença hepática ou diabetes, pode desenvolver sépsis, com sintomas de febre, arrepios, pressão arterial baixa e bolhas na pele, que podem ser fatais em casos graves.

 

Prevenção, controlo e gestão do risco de infecção por Vibrio vulnificus

 

       O Vibrio vulnificus é transmitido principalmente pela exposição de feridas à água do mar ou pelo consumo de marisco contaminado. Para minimizar eficazmente o risco de infecção, a gestão do risco deve ser implementada “da água até à mesa". Actualmente, as medidas adoptadas internacionalmente centram-se nestas três áreas:

  1. ​Controlo na fonte: monitorização regular da qualidade da água e dos produtos do mar nas zonas de pesca e adopção de medidas de controlo dos riscos microbiológicos, para reduzir o risco de contaminação na fonte.
  2. Controlo processual: controlo rigoroso das condições de temperatura e higiene durante o processamento e emprego de procedimentos programados (p.ex., arrefecimento rápido ou irradiação de alimentos) em alimentos de alto risco, como as ostras, para reduzir as probabilidades de sobrevivência do Vibrio vulnificus.
  3. ​Protecção do ponto final: reforçar a promoção dos riscos relacionados com o consumo do marisco cru, identificar claramente os potenciais riscos para a saúde desses produtos e aumentar a sensibilização do público para a prevenção.

​       Nos últimos anos, durante a sua monitorização de rotina, o Instituto para os Assuntos Municipais identificou múltiplos casos de infecção por Vibrio vulnificus em Macau e nas regiões vizinhas, resultantes do contacto com marisco ou água do mar. Em resposta, o IAM compilou uma série de directizes como “Orientações de Higiene para Bens Alimentares Importados", “Orientações de Higiene Pessoal para Manuseadores de Alimentos" e “Orientações de Higiene para a Prevenção de Contaminação Cruzada" para reforçar a capacidade do sector alimentar no controlo na fonte, na adopção de práticas de segurança alimentar e na gestão da segurança nas várias fases do processamento. Assim, o IAM promove a divulgação e a educação sobre a segurança alimentar de forma contínua e intensifica a monitorização da segurança dos produtos do mar em épocas de alto risco, conforme necessário.

 

Conselhos ao sector alimentar

 

  • Controlo na fonte: escolher marisco de águas não poluídas, guardar os recibos e facturas e desenvolver um sistema de rastreio eficaz.
  • Controlo processual: monitorizar as variações de temperatura, garantir que no processo de armazenamento e transporte, o marisco é mantido a uma temperatura baixa (abaixo dos 4°C), manusear alimentos crus e cozinhados em áreas diferentes e desinfectar regularmente os equipamentos.
  • Práticas de segurança: aumentar a sensibilização dos colaboradores para a segurança alimentar, usar luvas no manuseio de marisco, intensificar a limpeza e a desinfecção do estabelecimento e evitar a contaminação cruzada entre alimentos crus e cozinhados (p.ex., tábuas de corte ou facas).
  • Rotulagem e avisos: rotular ou indicar que os produtos do mar “devem ser completamente cozinhados" e alertar as pessoas de grupos de alto risco (com doença hepática, diabetes ou sistema imunitário enfraquecido), para os riscos do consumo de marisco cru.

 

Conselhos ao público em geral

 

  • Tomar cuidado ao comprar: escolher marisco que pareça fresco, com a casca intacta e sem odores estranhos.
  • Prevenção e controlo de riscos: usar luvas para manusear o marisco e evitar a exposição de ferimentos à água do mar e ao marisco.
  • Cozimento completo: cozer o marisco completamente (até a temperatura interna atingir 90°C) e evitar o consumo de marisco cru.
  • Procurar assistência médica imediata: procurar logo assistência médica se ocorrerem sintomas como vermelhidão, inchaço, dor e supuração da pele.

 

Referências:

1. CXC 52-2003Code of Practice for Fish and Fishery ProductsCodex Alimentarius

 

2. Guide for the Control of Molluscan Shellfish》(Food and Drug Administration. 2023 Revision.

 

3. Fish and Fishery Products Hazards and Controls Guidance》(Food and Drug Administration. June 2022 Edition.

 

4. Severe Vibrio vulnificus Infections in the United States Associated with Warming Coastal WatersCDC. 2023 Sep 1st.

 

5. Impacto do Vibrio vulnificus na aquacultura e no seu mecanismo patogénico (Pescarias de Heilongjiang). Capítulo 43, Edição 6, Dezembro de 2024

 

6. Progressos na investigação sobre o mecanismo de virulência e tratamento de Vibrio vulnificus (Jornal Médico de Zhejiang). Volume 47, Número 3, 2025

 

7. Orientações para o Sector (Departamento de Segurança Alimentar do Instituto para os Assuntos Municipais de Macau). 19 de Maio de 2025

https://www.foodsafety.gov.mo/p/tradeguidelines/listwithtab

 

8. Vibrio vulnificus nos alimentos (Centro de Segurança Alimentar da RAEHK), 8 de Outubro de 2018

https://www.cfs.gov.hk/english/multimedia/multimedia_pub/multimedia_pub_fsf_72_01.html

 

 

BRR 005 DAR 2025