Perigos Físicos nos Alimentos

29/04/2025

Resumo

 

  • ​Os perigos físicos nos alimentos referem-se a qualquer material que não deveria estar presente nos alimentos e que é introduzido ou transferido, directa ou indirectamente, para os produtos alimentares por algum meio, podendo causar incidentes contra a segurança alimentar;
  • Os corpos estranhos habitualmente encontrados incluem cacos de vidro, pequenos pedaços de metal ou plástico, carcaças de insectos, acessórios pessoais, unhas e cabelos, entre outros. A contaminação de produtos alimentares por corpos estranhos está frequentemente relacionada com equipamentos e instalações, materiais de embalagem, contaminação ambiental e causas humanas;
  • O consumo de alimentos contaminados por corpos estranhos pode resultar em cortes, hemorragias ou dentes partidos, ou mesmo asfixia em casos graves, o que pode ser fatal;
  • O sector alimentar deve prevenir-se contra a contaminação dos produtos alimentares por corpos estranhos através da formação do pessoal, da gestão de higiene, da melhoria nos processos de produção e preparação dos alimentos e da boa manutenção dos equipamentos e instalações, entre outras medidas;
  • O público deve evitar utilizar acessórios ao manusear alimentos e utilizar sempre utensílios limpos e intactos no seu manuseamento.

 

Introdução

 

       Nos últimos anos, ocorreram incidentes contra a segurança alimentar em Macau, em que foram encontrados corpos estranhos em produtos alimentares à venda no mercado. Além disso, o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) emitiu diversos alertas, devido a produtos alimentares pré-embalados importados para Macau poderem ter sido contaminados por corpos estranhos, como vidro, metal ou plástico. Este artigo apresenta os perigos físicos nos alimentos causados por corpos estranhos, os aspectos regulamentares relativos à seguranca alimentar em Macau e oferece ao sector alimentar e aos consumidores conselhos para minimizar os riscos associados à saúde.

 

Perigos físicos causados por corpos estranhos

 

       A contaminação dos alimentos por corpos estranhos é uma forma de contaminação física. Refere-se a qualquer material (p.ex., cacos de vidro, pequenos pedaços de metal ou plástico, pedras ou lascas de madeira) que não deveria estar presente nos alimentos e que é, directa ou indirectamente, introduzido ou transferido para estes por algum meio (incluindo produtos alimentares e as suas matérias-primas, utensílios, equipamentos e instalações, bem como pelos manipuladores de alimentos, etc.) e que pode causar incidentes contra a segurança alimentar.

 

       A principal causa de contaminação dos alimentos por corpos estranhos é a falta de higiene nas instalações de produção alimentar e nos estabelecimentos de comercialização de alimentos ou a insuficiente sensibilização para a higiene entre os manipuladores de alimentos. Isto inclui o manuseamento inadequado de alimentos e matérias-primas, o uso indevido de utensílios e equipamentos, o uso de jóias e unhas postiças, e não usar uma rede ou touca para o cabelo. Estas práticas incorrectas podem introduzir ou transferir corpos estranhos, como vidro, metal ou plástico, para os alimentos.

 

Riscos potenciais para a segurança alimentar representados por alimentos contaminados por corpos estranhos

       Quando existem corpos estranhos nos alimentos, os consumidores podem sofrer lesões durante o seu consumo, incluindo cortes, hemorragias ou dentes partidos, em casos ligeiros, até asfixia em casos graves, o que pode ser fatal. Os principais riscos para a segurança alimentar representados por corpos estranhos nos alimentos são os seguintes:

  • ​Lesões físicas: o corpo estranho pode provocar cortes na boca, nos dentes, no esófago ou no tracto gastrointestinal. Por exemplo, pedaços de metal ou cacos de vidro podem cortar a boca e o esófago, enquanto fragmentos de pedra podem rachar ou mesmo partir os dentes. Alguns corpos estranhos de maior dimensão podem bloquear o tracto respiratório e causar asfixia, o que pode ser fatal.
  • Riscos para a saúde: certos corpos estranhos podem conter substâncias ou microrganismos nocivos, que podem contaminar indirectamente os alimentos e, eventualmente, provocar intoxicações alimentares ou outros problemas de saúde. Por exemplo, os corpos metálicos estranhos podem conter metais pesados, que podem afectar negativamente a saúde quando ingeridos durante um longo período.
  • Confiança do consumidor: a contaminação dos alimentos por corpos estranhos pode prejudicar a reputação de uma empresa ou marca, fazendo com que os consumidores tenham dúvidas sobre a qualidade dos seus produtos.

 

Origem e tipos de corpos estranhos

       Os corpos estranhos habitualmente encontrados nos alimentos incluem cacos de vidro, pequenos pedaços de metal ou plástico, unhas, cabelos e acessórios pessoais, entre outros. Com base na origem e na natureza dos corpos estranhos, estes podem ser categorizados da seguinte forma:

  • Corpos estranhos endógenos
    • Têm origem em matérias-primas dos próprios alimentos, como ossos, cascas de nozes ou caules de plantas.
  • Corpos estranhos exógenos
    • ​Metal: parafusos, como fios metálicos ou lâminas;
    • Vidro: como cacos de chávenas, taças ou outros objectos;
    • Plásticos: como embalagens ou fragmentos de peças;
    • Tecidos e pelos de organismos: como pelos e unhas, humanos ou de animais;
    • Insectos e roedores: como insectos e ovos de insectos;
    • Outros: como pequenos pedaços de papel ou fragmentos de pedra.

 

Factores que causam a presença de corpos estranhos nos alimentos

  • Máquinas e equipamentos utilizados na produção de alimentos: fragmentos de metal ou plástico provenientes de equipamentos de corte e de máquinas de processamento de alimentos, devido ao desgaste ao longo do tempo;
  • Materiais de embalagem: os materiais de vidro ou plástico utilizados para embalar alimentos podem fragmentar-se com o impacto ou durante uma colisão;
  • Contaminação ambiental: se um alimento for exposto directamente ao ar durante o seu transporte ou exposição, o pó, a areia ou outras partículas no ar podem contaminá-lo;
  • Causas humanas: as práticas inadequadas de manuseamento por parte dos manipuladores de alimentos durante a sua produção e comercialização, ou a insuficiente sensibilização deles para a higiene, podem inadvertidamente fazer com que os seus acessórios ou outros corpos estranhos caiam nos alimentos, resultando em contaminação.

 

Aspectos regulamentares na RAEM relativos à segurança alimentar

 

       De acordo com a Lei n.º 5/2013 “Lei de Segurança Alimentar", o sector alimentar tem a responsabilidade de garantir que os produtos alimentares fornecidos ou servidos são higiénicos e seguros para consumo humano. Além disso, com vista a garantir a segurança alimentar do território, o IAM têm recolhido e analisado constantemente informações alimentares provenientes de outros países ou regiões e de Macau através de um sistema de monitorização de informação. Quando o IAM detecta que um determinado alimento pode representar um risco para a segurança alimentar, adopta de imediato as medidas preventivas e de controlo necessárias e emite um alerta para o sector alimentar. Além disso, o IAM destaca pessoal periodicamente para realizar inspecções regulares de higiene nas instalações de processamento de alimentos em Macau, para supervisionar as suas condições de higiene, a fim de proteger a segurança alimentar.

 

   ​ ​O IAM compilou uma série de orientações, incluindo “Orientações de Higiene para a Prevenção de Contaminação Cruzada", “Orientações de Higiene Pessoal para Manuseadores de Alimentos" e “Orientações para a Segurança e Higiene Alimentar na Execução de Obras de Reparação e Manutenção", para relembrar ao sector alimentar de Macau as práticas e precauções essenciais necessárias no que diz respeito à higiene pessoal e ambiental, e à limpeza de equipamentos e instalações na produção e preparação de alimentos, por forma a garantir a segurança alimentar no território. As referidas orientações podem ser consultadas na página “Orientações para o Sector", no website da “Informação sobre Segurança Alimentar".

 

Conselhos ao sector alimentar

 

  • Reforçar a gestão e a formação do pessoal:
    • ​Prestar especial atenção à higiene pessoal dos manipuladores de alimentos. Por exemplo, lembrar-lhes que devem usar roupa de trabalho limpa e bem arrumada, e uma rede ou touca de cabelo para cobri-lo completamente;
    • Verificar-se de que não existem botões soltos na roupa de trabalho, para evitar que caiam nos alimentos;
    • Evitar usar acessórios, como anéis, pulseiras ou relógios;
    • Não utilizar verniz, unhas postiças ou pestanas postiças;
    • Cobrir adequadamente qualquer corte ou ferida com um penso impermeável ou penso adesivo, de cores vivas;
    • Providenciar para que os manipuladores de alimentos participem periodicamente em cursos de formação sobre segurança alimentar, a fim de garantir que estes têm conhecimentos suficientes sobre segurança alimentar para executar as tarefas na produção, preparação e serviço de alimentos.
  • Melhorar a gestão das instalações de produção alimentar e dos estabelecimentos de comercialização de alimentos, bem como a sua limpeza periódica:
    • ​​Não utilizar acessórios de vidro (p.ex.: abajures ou capas protectoras para termómetros de frigorífico) em equipamentos nas áreas de manipulação de alimentos;
    • Adoptar medidas eficazes para manter os mosquitos, moscas e outros insectos afastados das áreas de manipulação de alimentos, como a instalação de redes de protecção;
    • Elaborar um plano de controlo e gestão de pragas, realizar regularmente procedimentos de controlo, e inspecção e manutenção regulares dos equipamentos e dispositivos de controlo de pragas para evitar infestações;
    • Limpar e desinfectar regularmente as instalações de produção alimentar e os estabelecimentos de comercialização de alimentos e não manter animais de estimação nessas instalações.
  • Optimizar a gestão do processo de produção de alimentos:
    • ​​Não utilizar recipientes ou colheres de vidro para apanhar alimentos ou retirar cubos de gelo;
    • Se um recipiente se partir ou qualquer corpo estranho entrar acidentalmente em contacto com os alimentos durante o manuseamento, deitar fora todos os alimentos potencialmente contaminados e limpar bem a área onde ocorreu o incidente, bem como os artigos que se encontram perto;
    • Adoptar as medidas adequadas para evitar a contaminação dos alimentos por corpos estranhos durante o seu transporte e a exposição. Por exemplo, cobri-los ou embrulhá-los com película aderente;
    • Os operadores do sector alimentar podem instalar ou utilizar equipamentos com detecção de metais ou função de raios X para a inspecção de alimentos nos principais pontos de controlo (p.ex., recepção de ingredientes e embalagens alimentares, entre outros) para satisfazer as suas necessidades de produção e operação.
  • Inspecção regular de utensílios, equipamentos e instalações:
    • ​Realizar inspecções regulares aos equipamentos utilizados no processamento de alimentos, como equipamentos de corte, para verificar se existe desgaste. Substituir de imediato as peças danificadas para evitar que caiam e provoquem algum tipo de contaminação nos alimentos;
    • Se algum utensílio ou equipamento que entre em contacto com alimentos estiver danificado ou apresentar fissuras, deve ser reparado ou substituído imediatamente;
    • Devem ser adoptadas medidas de protecção eficazes durante a substituição ou reparação de equipamentos ou instalações, para garantir que as peças e acessórios do equipamento ou corpos estranhos não entram em contacto com os alimentos durante as operações de substituição ou reparação.

 

Conselhos ao público em geral

 

  • ​Utilizar utensílios de cozinha intactos: não utilizar recipientes de vidro ou cerâmica lascados ou partidos para guardar ou manusear alimentos;
  • Acessórios pessoais: evitar usar anéis, pulseiras e outros acessórios quando manusear alimentos;
  • Verificar a embalagem dos alimentos: ao comprar alimentos, prestar especial atenção à embalagem para verificar se está intacta e bem fechada. Se estiver danificada, não comprar nem consumir;
  • Guardar provas: se detectar um corpo estranho num alimento, deve notificar o IAM sobre o caso e apresentar o recibo de compra do produto ou outras provas (p.ex. fotografias ou a própria embalagem do produto).

 

Referências

1. “Orientações de Higiene para a Prevenção de Contaminação Cruzada" (Instituto para os Assuntos Municipais da RAEM), Março de 2024

https://www.foodsafety.gov.mo/file?p=foodsafetyinfo/List22/74_8918f48c1059fb1e0bafba7ed4c5b42f.pdf

 

2. “Orientações para a Segurança e Higiene Alimentar na Execução de Obras de Reparação e Manutenção" (Instituto para os Assuntos Municipais da RAEM), Dezembro de 2020

https://www.foodsafety.gov.mo/file?p=foodsafetyinfo/List22/39_9d844f177b6498373318c9c8a5d7bf9e.pdf

 

3. “Orientações de Higiene Pessoal para Manuseadores de Alimentos" (Instituto para os Assuntos Municipais da RAEM), Dezembro de 2019

https://www.foodsafety.gov.mo/file?p=foodsafetyinfo/List22/65_466b56cfa95f8b9437f58dd3b2bb96cf.pdf

 

4. “Materiais Didáticos Complementares em Gestão da Segurança Alimentar" (Instituto para os Assuntos Municipais da RAEM), Novembro de 2019

https://www.foodsafety.gov.mo/file?p=foodsafetyinfo/docleaflet/637599517884442.pdf

 

5. Perigos Alimentares e Contaminação Alimentar (Centro para Segurança Alimentar da RAEHK), Novembro de 2022

https://www.cfs.gov.hk/tc_chi/trade_zone/safe_kitchen/Food_hazards_and_food_contamination.html

 

6. A contaminação cruzada também pode ocorrer na cozinha (Centro de Controlo e Prevenção de Doenças, cidade de Fuzhou, China), Setembro de 2024

https://cdc.fuzhou.gov.cn/zz/jkjy/spaqfxjc/202409/t20240930_4902564.htm

 

7. “Manual do Plano de Segurança Alimentar" (Ministério da Saúde, Colúmbia Britânica, Canadá), Agosto de 2021

https://www2.gov.bc.ca/assets/gov/health/keeping-bc-healthy-safe/food-safety-security/food-safety-plan-workbook-simplified-chinese.pdf

 

BRR 003 DAR 2025